Historicamente, teóricos como Piaget, Vygosky, Paulo Freire, entre outros, já definiram, defenderam e demonstraram que a cooperação é um importante dinamizador da aprendizagem. Piaget define cooperação como operar em comum, ou seja, co-operar. Para Vygotsky, o trabalho coletivo propicia a ZDP – zona de desenvolvimento proximal – caracterizada pela distância entre o nível de desenvolvimento real (conhecimento já consolidado pelo indivíduo – autonomia) e o nível de desenvolvimento potencial (conhecimento que irá ser construído com a ajuda do outro – em cooperação). Para Paulo Freire, a educação dialógica, traz na sua essência, a idéia de cooperaçãoe igualdade na medida em que o significado da palavra diálogo pressupõe comunicação de duas ou mais vias (comunicação “com” e não “para”).
Alguns autores tratam cooperação e colaboração como sinônimos, outros, porém, fazem distinção. Particularmente, acredito na complementaridade dessas definições: a colaboração entre sujeitos acontece na interação entre eles, porém pode partir de ambas as partes envolvidas ou unilateralmente. Na cooperação é fundamental que haja interação, colaboração, mas, além disso, é preciso compartilhar objetivos e realizar ações em comum. Assim, não existe cooperação sem colaboração, mas pode existir colaboração sem cooperação.
Ainda tenho dúvidas em relação à essa divisão entre os termos. Neste caso, poderia ser uma diferença, quando analisamos ambientes virtuais, e percebemos que a colaboração é encontrada em listas de discussão, comunidades abertas e outros ambientes coletivos que participamos na Web. A cooperação é mais restrita a grupos de estudos e desenvolvimento de projetos, onde se pretende a construção de um determinado conhecimento – inteligência coletiva. Será que é isso?
Nestas circunstâncias, é possível afirmar que os ambientes organizacionais, povoados por equipes de trabalho com interesses em comum, constituem-se, por excelência, em ambientes de aprendizagem cooperativa. Mas simplesmente o fato de “pessoas trabalharem juntas”, não resulta por si mesmo em esforços cooperativos, pelo contrário, pode desencadear esforços individualistas e acirrar a competição entre os integrantes das equipes.
Não nos restam dúvidas de que a aprendizagem cooperativa é eficaz e só traz benefícios, porém não tem sido fácil implementá-la. Uma das razões para tal é porque não sabemos como trabalhar cooperativamente. O modelo educacional atual, apesar de ter avançado em muitos aspectos, ainda privilegia as potencialidades individuais dos alunos, enfatiza classificações e promove procedimentos de avaliação por recompensa (notas), que traz conseqüências desastrosas na vida pós-academia. Então, ao nos depararmos com situações que efetivamente temos que demonstrar nossa competência cooperativa, nos reportamos aos referenciais educacionais internalizados – privilegiamos nossas opiniões individuais e nos fechamos à escuta do grupo.
Cinco componentes essenciais caracterizam o cenário para que ocorra aaprendizagem cooperativa:
- Interdependência positiva - cada elemento do grupo percebe que só terá sucesso, caso todos tenham (mais...);
- Responsabilidade do indivíduo (responsabilização individual de tal modo que o desempenho de cada integrante seja avaliado);
- Interação promotora (promover face-a-face, o sucesso dos outros – animando, apoiando, instigando questões...);
- Desenvolvimento de habilidades sociais (garantir participação igual, abrir-se para esclarecimentos, evitar as distrações, negociar, buscar entender, animar os outros, olhar para quem fala, integrar as idéias, ser responsável, seguir as instruções, fazer perguntas, permanecer junto ao grupo, contribuir com idéias, expressar apoio e aceitação de idéias, ampliar respostas dos outros, discordar sem criticar, resumir...);
- Processamento através do grupo (fazer com que os componentes do grupo percebam como o grupo interage e trabalha).
Nem todasas tentativas de aprender cooperativamente serão bem-sucedidas, já que, sob certas circunstâncias, pode levar à perda do processo, falta de iniciativa, mal-entendidos, conflitos, e descrédito: os benefícios potenciais não são sempre alcançados.
Por isso, o sucesso da aprendizagem cooperativa não depende unicamente da utilização de tecnologias da informação e comunicação ou de implementação de ambientes virtuais, mas acima de tudo, de uma mudança de postura quanto à forma dese relacionar e interagir com os outros.
. Haidt, Regina C. Curso de Didática Geral, ed Moderna, São Paulo, 1999.
. Campos, F; Santoro, F; Borges, M; Santos, N. Cooperação e aprendizagem on-line, ed DP&A, Rio de Janeiro, 2003.
. Johnson, D; Johnson, R; Smith, K. A aprendizagem cooperativa retorna às faculdades in Change, Jul/Ago98, vol 30, issue 4, p26.
. Zabalza, Miguel. A aprendizagem como um processo colaborativo. Fórum SM de Educação/Universidade de Santiago de Compostela.
3 comentários:
A citação ao artigo dos Johnson é 'aprendizagem cooperativa' e não 'colaborativa'. Trabalhamos com a Aprendizagem Cooperativa tendo os irmãos Johnson como fundamento, numa experiência fora da sala de aula na UFC em Fortaleza. Tem sido uma experiência muito rica. Importante destacar que os cinco pilares devem acontecer para que se caracterize como sendo Aprendizagem Cooperativa.
Corrigido! Obrigada, Hermany!
Qual a diferença entre cooperativa para colaborativa?
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