Incursões webnianas...navegando pela web!

Nas minhas incursões/excursões pelos sites na web, encontrei, nos textos da profa Paula Carolei, (pos...com sua licença, Paula) idéias das quais compactuo, tanto no que diz respeito à concepção de Educação (no texto Ensino-Aprendizagem e a nova Alquimia do Virtual), como no uso de Tecnologias e ambientes Virtuais e propostas de aplicação (no texto Ferramentas e estratégias que ajudam a desenvolver habilidades hipertextuais no ensino online). Percebi esta identificação ao analisar suas idéias e considerações e os autores por ela citados que expressam uma linha de pensamento muito semelhante à que venho tentando traçar ao longo do meu caminho no ofício de ensinar.
Começo por um dos pontos abordados que merece destaque: as Teorias de Aprendizagem. Conhecê-las, não é o mais complicado, nem mesmo aplicá-las, mas compreendê-las e pensá-las dentro de um contexto específico de quem as desenvolveu, é fundamental. Para tanto, faço aqui uma referência e estabeleço uma relação ao livro de David Berlo (O processo da Comunicação - Introdução à teoria e à prática - ed Martins Fontes): mais importante que o discurso, é QUEM o está dizendo. Esse QUEM está dentro de um espaço, tempo, realidade que nos situa.
As teorias servem de fundamentos para a Educação, mas é preciso lembrar que estamos em outra época, em outro contexto, onde as pessoas são diferentes. Assim, é preciso pensar além, criar novas formas de ensinar e aprender. Por isso, não basta ao educador conhecer as teorias de aprendizagem, mas é preciso saber de que forma surgiram, em que época e por que. Mesmo assim, essas teorias não devem ser \"aplicadas\" como uma receita ou um roteiro a ser seguido, mas sim, servir de parâmetros e referenciais teóricos para nossa prática. Cada um de nós possui uma teoria de ensino, o que traz, no seu discurso implícito, aquilo em que acreditamos, baseada em concepções de mundo, construídas ao longo da vida, por referências, valores, modelos apreendidos, enfim, nossas crenças pessoais.
Ao falar sobre determinadas teorias, o diálogo entre Papert e Freire também me chamou a atenção. De um lado Papert, educador voltado para o uso do computador na aprendizagem e criador da linguagem LOGO, e de outro Paulo Freire, educador voltado para as questões do diálogo, da participação e da troca, contrário ao que chamava de \"educação bancária\" (transmissão de conhecimento) mostraram que existem pontos em comum no pensamento deles.
Papert apresenta a aprendizagem em três estágios:
1. exploração - onde a criança explora e se autodirige,
2. instrução - criança necessita de outros (professor ou colegas) para ter acesso ao que ainda não consegue sozinha (aprendizado sistematizado) e
3. criação - liberta-se da instrução e cria, relacionando estruturas internas com o externo, novos conceitos e conhecimentos. Para ele, a aprendizagem é o princípio para resolver problemas \"pensar sobre um problema é brincar com ele\". Essa brincadeira pode ser propiciada das mais diversas formas e o uso da tecnologia pode ser de grande valia neste processo. Papert traz a idéia de conexionismo, entendido como um conjunto de idéias que sugere que a aprendizagem consiste em fazer conexões entre entidades mentais já existentes. É internalizar uma idéia e reestruturá-la, a partir do que já temos e somos, para depois nos modificarmos e nos tornarmos outro. Esse processo é contínuo e quase inconsciente, visto que, nem sempre nos damos conta de como e onde aprendemos.
Para Paulo Freire, muitos não ultrapassam o estágio da instrução, citada por Papert, pois é nesse estágio que a critividade é tolhida (morte da escola). Assim o aluno que apenas recebe, que é passivo, não ganha autonomia para criar. O aluno deve ter a \"sua palavra\", deve ser participativo e a escola deve ter o espaço do diálogo.
Acredita que a escola deve ser tão atual quanto à tecnologia, pois ela tem um grande papel de sistematizar as descobertas do aluno e deve ser construída e reconstruída, de acordo com o tempo. Só compreenderemos o que é aprender, quando compreendermos o que é ensinar. Segundo Paulo Freire, as duas ações andam juntas, e não é possível separá-las: \"Não se entenderá essa capacidade de aprender se não se compreender a capacidade correspondente que é a de ensinar. É por isso que me espanta ainda a distância que ficamos de compreender a simultaneidade dialética entre ensinar e aprender\". A proposta de Paulo Freire é caucada na pedagogia da pergunta e não da resposta. A Tecnologia novamente pode ser uma grande aliada neste processo e, a partir dela, é possível apresentar novos estímulos e novos desafios que tornam o educando mais curioso e sedento de novas descobertas.
Essas considerações de Paulo Freire, muito têm em comum com Tapscott sobre o novo modelo de aprendizagem da geração atual, baseada na internet. Em seu livro \"Geração Digital\", entende que a aprendizagem deve priorizar a descoberta e a participação, ou seja: ser hipermidiática e não linear. Quem é o centro do processo é o aluno, e está em constante formação (como diz Freire também), pois está sempre aprendendo a aprender. Neste olhar, o professor é o orientador do processo ensino-aprendizagem.
Sendo assim, entendo que o modelo de aprendizagem hipermidiática requer o conceito de redes, na medida que a curiosidade, a descoberta, a participação não é unidirecional. Para tanto, a idéia de Educação como rede é fundamental, pois o pensamento linear (representado na cultura escrita) não dá conta de entender todas essas essas conexões em um universo de relações tão amplo. O micro e o macro representado nas grandes redes traduzem a idéia do pensamento complexo (elaborada por Edgar Mrorin) fundamental para abandonar a automatização do ensino. A rede é feita de laços, de relações que são criadas, reforçadas e/ou destruídas. Portanto, a cooperação passa a ser um aspecto fundamental neste contexto, pois a rede possibilita trocas e ações conjuntas propiciando ligações a vários pontos simultâneamente, permitindo ao indivíduo participação em grupos variados. Por isso as comunidades virtuais ganharam força e se multiplicaram rapidamente no ambiente virtual, facilitando a busca do conhecimento, da construção e reconstrução de novas identidades - individuais ou coletivas. Em uma aprendizagem coletiva, o produto não pertence a um ou outro integrante da comunidade, mas a construção da obra é do grupo, onde não é possível identificar o responsável por cada detalhe. Entender que esse projeto faz parte da evolução contínua do ser humano e que dele pode, e deve, advir a construção de um projeto coletivo bem maior, não é tarefa fácil, mas possível.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à Educação. Ed. Cortez, São Paulo, 2001.
PAPERT, Seymor. A Máquina das Crianças, tradução Sandra Costa. Ed. Artes Médicas, Porto Alegre, 1994.
TAPSCOTT, Don. A geração Digital. Ed. Makron, São Paulo, 1999.

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