Educar as novas gerações de alunos hiperconectados é um desafio que conheço bem. Estou no magistério há muito tempo (mesmo!) e acompanhei várias mudanças, porém, nenhuma tão significativa como a chegada da internet e com ela as TDIC - Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação. Por isso, sempre me perguntam como o aluno nascido no meio digital lida com o modelo tradicional de escola e se hoje em dia o uso de novas tecnologias em sala é adequado.
É preciso ter muito cuidado ao falar sobre a relação entre o aluno digital e a escola. Os alunos pertencentes a essa geração reconhecem a importância da escola e dos professores, porém, não acreditam mais no seu modelo atual. O modelo que se apresenta hoje, da educação infantil ao ensino médio, é o mesmo que conhecemos há mais de um século – grade curricular dividida em disciplinas fragmentadas, sem interdisciplinaridade entre as áreas, procedimentos pedagógicos ultrapassados subutilizando as tecnologias ou simplesmente ignorando-as, falta de espaço para inovação e criatividade e conhecimento desconectado do mundo lá fora.
Apesar de termos avançado em uma série de aspectos – inclusive no que se refere ao uso de tecnologia aplicada a novos procedimentos pedagógicos, ainda temos uma escola centrada nas ações do professor e não no aluno. Estamos habituados a colocar o professor como o principal ator no processo pedagógico quando, na verdade, o aluno deveria estar no centro, junto com o professor. Ainda existe um certo receio de deixar os alunos à vontade no uso das tecnologias digitais e equipamentos eletrônicos, como por exemplo algo que possa fugir ao controle da aula e/ou do professor. É preciso inverter a lógica da sala de aula tradicional para que possa ser sentida uma mudança efetiva.
Acredito que o descompasso entre alunos imersos no meio digital e professores “de uma outra época” está diminuindo... e que temos grandes desafios quando o assunto é a educação para essa geração digital. Embora boa parte dos professores ainda insista em fechar os olhos a todas essas mudanças iniciadas com as TDIC (Tecnologias da Informação e Comunicação), o descompasso tem diminuído, pois é muito fácil perceber que não se pode mais voltar atrás! Acredito que o maior desafio agora tem sido em como implementar as tecnologias digitais de forma adequada e relevante, para que a tecnologia não seja utilizada sem planejamento ou sem intenção pedagógica.
E aí chegamos no papel do professor nesse complexo cenário....Como se preparar para tudo isso?
Sem dúvida, o professor é uma peça-chave em todo esse contexto! Apesar de as instituições serem responsáveis pela estrutura física e material, o professor deve ser o start das mudanças pedagógicas dentro da sala de aula junto a seus alunos, proporcionando novos espaços conectados de aprendizagem, experimentando diversas ferramentas digitais e metodologias inovadoras, mantendo-se próximo dos alunos, ouvindo-os mais e incentivando-os em novos projetos. O professor não deve esperar que a Instituição lhe ofereça formação tecnológica adequada para se apropriar das TDIC e modalidades de ensino diferenciadas, mas sim ter iniciativa, ser sujeito da sua prática, cultivar a pesquisa para si e para seus alunos, aproveitando tudo o que a grande rede pode lhe oferecer. Atualmente, a internet está repleta de tutoriais, comunidades de aprendizagem, cursos online, MOOCs e listas de discussão, que devem fazer parte da formação indireta do profissional de educação.
É incrível como essa nova geração de alunos tem desafiado a escola... Acredito que essa geração tem trazido questões fundamentais para a escola repensar seus processos e autoavaliar-se, não só no que se refere ao uso das TDIC, mas também em relação à disciplina, autonomia e pensamento crítico. Essas questões acabam impactando a atuação dos professores, coordenadores, diretores e o espaço escolar, resultando em mudanças, ainda que não tão rápidas como gostaríamos. O perfil cognitivo de uma geração habituada a transitar no espaço digital apresenta-nos novas habilidades comunicacionais, novos comportamentos, novas formas de se relacionar com o conhecimento e uma horizontalidade nas relações interpessoais que favorecem ambientes mais acessíveis e democráticos. Por outro lado, entendo que é de responsabilidade da escola proporcionar o bom uso das TDIC, de forma relevante e intencional, mantendo tradições e valores que ainda são fundamentais para a formação de qualquer cidadão que almeja uma sociedade mais justa e igualitária.
Qual é a imagem da escola do futuro? Nesta perspectiva, vejo a escola do futuro como um local extremamente conectado, por meio de redes colaborativas, onde professores e alunos possam exercitar sua autonomia, tanto no ensinar como no aprender, vivenciando processos inovadores e criativos em diversas linguagens, onde a tecnologia seja o elo entre todos esses processos relacionais e formativos.
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